RUI(N)DO
uma criação de Valentina Parravicini
Fernando Ramalho
Play Bleu
19 e 20
JULHO
20h
gabinete curiosidades karnart
av. da índia, 168
lisboa - belém
Sinopse:
Rui(n)do é um projeto multidisciplinar composto pela co-criação em sincronia de um solo de dança, uma composição sonora e uma peça de vídeo. O som, elaborado a partir da recolha e manipulação das sonoridades existentes na cidade, e o vídeo, inspirado no trazer à imagem aquilo que emerge da invisibilidade quotidiana, criam uma paisagem atmosférica, enquanto a dança se debruça sobre o aparecer em corpo da experiência de cidade.
Rui(n)do procura dar conta de uma leitura da cidade que torne visível a potência transformadora de um viver através das ruínas, questionando o lugar do corpo num exercício que reconfigura o espaço, alterando as possibilidades de escuta-pensamento-ação de quem nele habita.
Enquadramento teórico:
A cidade tornou-se plástica. As suas antigas fronteiras esbateram-se, colonizando e tornando híbridas vastas extensões de território, de tal modo que já dificilmente se poderá imaginar uma exterioridade à cidade. Mesmo a palavra território continua aqui a ser usada apenas por preguiça de linguagem. Não que o território – o velho território, esquadrinhado e topografado – tenha deixado de existir, mas tornou-se de tal forma poroso que é permanentemente reconfigurado por um viver quotidiano produtor, a tempo inteiro, de fluxos: fluxos de mobilidade, de linguagem, de imagem, de som, de mercadorias, de emoções.
Se antes os lugares da produção eram relativamente fixos, suportados subsidiariamente por múltiplas formas de circulação, hoje, pelo contrário, toda a experiência quotidiana é produtiva. Ou, dito de outro modo, toda a experiência quotidiana produz e produz-se através de uma espécie de movimento perpétuo que dispõe e redispõe os corpos. A experiência quotidiana, precariamente infinita, esboça, nessa medida, uma paisagem – uma paisagem cuja plasticidade lhe advém da sua própria composição por camadas: corpos, discursos, movimentos.
Por outro lado, a cidade produtiva atual emergiu das ruínas da cidade territorializada. Ou seja, formou-se a partir de uma espécie de espectro, da memória meio-viva do que é já não sendo, de um discurso sobre uma marca identitária que se afirma por um esforço de estilizar e tornar coerente uma constelação de estilhaços. Esse espectro está presente um pouco por todo o lado, não só na materialidade da cidade mas sobretudo na sua produção simbólica e discursiva, na sua gramática. Eis as suas ruínas: um holograma em que cada um governa a sua relação com o espaço e com os outros através de uma oscilação infinita entre uma narrativa do passado e a enésima promessa de futuro, tornando-os indistintos.
Processo:
Rui(n)do combina os conceitos de ruína e ruído numa criação multidisciplinar, com o intento de produzir uma performance em que dança, música e vídeo cooperam num processo de reconfiguração do espaço, manipulando a relação entre som, imagem, tempo e corpo.
Na experiência contemporânea da cidade, a ruína está presente enquanto algo que existe no seu próprio desaparecer, síntese de passado e futuro. O ruído interessa-nos enquanto componente produtiva do quotidiano que somos e fazemos, mas também pelo seu potencial de escapar à materialidade e à arquitetura, transgredindo as construções, os propósitos e os compartimentos para os quais foi produzido.
As partituras de movimento surgem através de um processo de improvisação e seleção de materiais, deixando aparecer no corpo a experiência da cidade que a composição sonora evoca, a partir de um exercício de manipulação de gravações de campo. O vídeo adiciona outras camadas, trazendo texturas e atmosferas que entram em ressonância com o som e o corpo presentes no espaço, criando uma trama imprevisível de relações.
Pretende-se experimentar um processo em que as áreas de criação se relacionam de uma forma não hierárquica, possibilitando um diálogo entre metodologias e abordagens diferentes (gravação de som e imagem da cidade, improvisação e composição em dança, composição sonora, edição de vídeo), em torno de preocupações em comum entre os vários criadores, ligadas a como a experiência da cidade se inscreve num processo de criação artística e a como, por outro lado, a criação artística produz e reconfigura a experiência da cidade.
O projeto dá continuidade a uma série de experiências de co-criação a que Valentina Parravicini se tem dedicado nos últimos sete anos, cruzando as áreas da dança, música, desenho, fotografia e vídeo, estabelecendo uma colaboração continuada com o c.e.m. e colaborações pontuais com outras estruturas e artistas. Nesta sequência, faz sentido referir o solo IN, criado em 2011 num prédio em ruína, a partir de uma pesquisa fotográfica com o fotografo Cristiano Christillin, e no qual se inspira o projeto vídeo-dança Corpo sem órgãos, com direção de Renata Ferraz. Outras experiências de colaboração que se baseiam numa escuta das varias camadas de som presentes na cidade foram o projeto Crepuscular Radio (2010, Festival Pedras d'Água) de Graeme Miller e Enquanto as nuvens passam o céu
Rui(n)do é um projeto multidisciplinar composto pela co-criação em sincronia de um solo de dança, uma composição sonora e uma peça de vídeo. O som, elaborado a partir da recolha e manipulação das sonoridades existentes na cidade, e o vídeo, inspirado no trazer à imagem aquilo que emerge da invisibilidade quotidiana, criam uma paisagem atmosférica, enquanto a dança se debruça sobre o aparecer em corpo da experiência de cidade.
Rui(n)do procura dar conta de uma leitura da cidade que torne visível a potência transformadora de um viver através das ruínas, questionando o lugar do corpo num exercício que reconfigura o espaço, alterando as possibilidades de escuta-pensamento-ação de quem nele habita.
Enquadramento teórico:
A cidade tornou-se plástica. As suas antigas fronteiras esbateram-se, colonizando e tornando híbridas vastas extensões de território, de tal modo que já dificilmente se poderá imaginar uma exterioridade à cidade. Mesmo a palavra território continua aqui a ser usada apenas por preguiça de linguagem. Não que o território – o velho território, esquadrinhado e topografado – tenha deixado de existir, mas tornou-se de tal forma poroso que é permanentemente reconfigurado por um viver quotidiano produtor, a tempo inteiro, de fluxos: fluxos de mobilidade, de linguagem, de imagem, de som, de mercadorias, de emoções.
Se antes os lugares da produção eram relativamente fixos, suportados subsidiariamente por múltiplas formas de circulação, hoje, pelo contrário, toda a experiência quotidiana é produtiva. Ou, dito de outro modo, toda a experiência quotidiana produz e produz-se através de uma espécie de movimento perpétuo que dispõe e redispõe os corpos. A experiência quotidiana, precariamente infinita, esboça, nessa medida, uma paisagem – uma paisagem cuja plasticidade lhe advém da sua própria composição por camadas: corpos, discursos, movimentos.
Por outro lado, a cidade produtiva atual emergiu das ruínas da cidade territorializada. Ou seja, formou-se a partir de uma espécie de espectro, da memória meio-viva do que é já não sendo, de um discurso sobre uma marca identitária que se afirma por um esforço de estilizar e tornar coerente uma constelação de estilhaços. Esse espectro está presente um pouco por todo o lado, não só na materialidade da cidade mas sobretudo na sua produção simbólica e discursiva, na sua gramática. Eis as suas ruínas: um holograma em que cada um governa a sua relação com o espaço e com os outros através de uma oscilação infinita entre uma narrativa do passado e a enésima promessa de futuro, tornando-os indistintos.
Processo:
Rui(n)do combina os conceitos de ruína e ruído numa criação multidisciplinar, com o intento de produzir uma performance em que dança, música e vídeo cooperam num processo de reconfiguração do espaço, manipulando a relação entre som, imagem, tempo e corpo.
Na experiência contemporânea da cidade, a ruína está presente enquanto algo que existe no seu próprio desaparecer, síntese de passado e futuro. O ruído interessa-nos enquanto componente produtiva do quotidiano que somos e fazemos, mas também pelo seu potencial de escapar à materialidade e à arquitetura, transgredindo as construções, os propósitos e os compartimentos para os quais foi produzido.
As partituras de movimento surgem através de um processo de improvisação e seleção de materiais, deixando aparecer no corpo a experiência da cidade que a composição sonora evoca, a partir de um exercício de manipulação de gravações de campo. O vídeo adiciona outras camadas, trazendo texturas e atmosferas que entram em ressonância com o som e o corpo presentes no espaço, criando uma trama imprevisível de relações.
Pretende-se experimentar um processo em que as áreas de criação se relacionam de uma forma não hierárquica, possibilitando um diálogo entre metodologias e abordagens diferentes (gravação de som e imagem da cidade, improvisação e composição em dança, composição sonora, edição de vídeo), em torno de preocupações em comum entre os vários criadores, ligadas a como a experiência da cidade se inscreve num processo de criação artística e a como, por outro lado, a criação artística produz e reconfigura a experiência da cidade.
O projeto dá continuidade a uma série de experiências de co-criação a que Valentina Parravicini se tem dedicado nos últimos sete anos, cruzando as áreas da dança, música, desenho, fotografia e vídeo, estabelecendo uma colaboração continuada com o c.e.m. e colaborações pontuais com outras estruturas e artistas. Nesta sequência, faz sentido referir o solo IN, criado em 2011 num prédio em ruína, a partir de uma pesquisa fotográfica com o fotografo Cristiano Christillin, e no qual se inspira o projeto vídeo-dança Corpo sem órgãos, com direção de Renata Ferraz. Outras experiências de colaboração que se baseiam numa escuta das varias camadas de som presentes na cidade foram o projeto Crepuscular Radio (2010, Festival Pedras d'Água) de Graeme Miller e Enquanto as nuvens passam o céu
continua,apresentado em 2015 no Pedras '15 – A Arte de Caber em Toda a Parte.